Passámos a olhar o rio como património da nossa Vila. Alhos Vedros cresceu e desenvolveu-se numa estreita e fraterna ligação ao rio, dele dependia o crescimento e a sustentabilidade económica da Vila. Mas era também esta Vila que o enfeitava com as suas gentes e as suas embarcações, era a Vila que lhe permitia revelar a sua riqueza e a sua importância. Ao longo do tempo o Termo da vila foi sofrendo profundas alterações, e diminuiu significativamente a região ribeirinha a favor de outras freguesias que foram crescendo. A vila ressentiu-se. Hoje o rio continua a iluminar-lhe a memória.
Desde sempre Alhos Vedros dependeu do rio e de Lisboa, criou actividades e ofícios que se regulavam pela hora das marés (carreteiros, estalajadeiros, carregadores, os arrais e demais tripulação das embarcações). O rio funcionou, desde tempos ancestrais, como um pólo catalisador de vida, comunidades que se fixaram nas suas margens, que cresceram numa estreita relação de dádiva mútua, a quem ele ofereceu generosamente, na faina contínua do trabalho árduo, alimento (pescado, sal) e se transformou num elo de ligação fundamental entre diferentes regiões. O rio que se impõe na linguagem típica das margens ribeirinhas, dos seus pescadores, comerciantes, gentes que chegam e partem de um cais que se transforma no centro da vida comunitária. O cais era um espaço social e de convívio, ai se juntavam as pessoas, conversam, sabiam notícias da outra margem. Produtos que chegam (importados - cereais), produtos que saiam (exportados - sal e vinho). O Rio que fixa o moinho, (as características geomorfológicas da margem esquerda do estuário do Tejo, abundante em esteiros naturais tornavam estes espaços atractivos para a edificação de Moinhos de Maré, estes esteiros naturais foram aproveitados para a construção das caldeiras dos moinhos), o rio que leva a farinha, o vinho, alguns legumes e fruta, que assiste e recebe nos seus esteiros aves que ai nidificam. O rio permanece.
“ … quase todos os dias entram carregadas de peixe de toda a espécie, além de muitos barcos pequenos a que chamamos muletas (…) pescam muitos e grandes linguados, infinitas azevias ( peixe que só neste rio se acha ) muito congro, corvina, mugem e grandes tainhas, xarrocos (…) gostosíssimos pampanos, salmonetes, lagostas e lagostins, e grande quantidade de camarões grandes e pequenos e outra muita sorte de peixe de menos estima”.
Adaptado
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Alberto Caeiro